DOCUMENTÁRIO DA NETFLIX MOSTRA NOTÍCIAS FALSAS SOBRE O TRATAMENTO DE CANAL
O documentário “A Raiz do Problema” (“Root Cause”) insinua que todos os seus problemas de saúde devem ser resolvidos com a extração de dentes. Simples assim! Segundo os entrevistados do filme, o tratamento de canal pode causar câncer, problemas mentais e cardíacos, ataques de pânico, fadiga, infecções nos rins e na bexiga, atrite e por aí vaí. Assim, a melhor maneira de resolver doenças seria arrancando os dentes com tratamento de canal – ou, melhor ainda, nem fazer o tratamento de canal e arrancar o dente problemático.
O filme começa com declações fortes, como: “não há nenhum ramo da medicina no qual um órgão morto é deixado no corpo, exceto na Odontologia, com tratamento de canal. Quando um dedo está gangrenado, ele tem que ser amputado”, ou então: “Se você acha que pode ignorar um dente infactado e tóxico, e não ter consequencias sistêmicas, acho que você está se iludindo”.
Os tratamentos de canal são necessários quando um dente, por cáries, rachaduras e outros traumas, está com sua raiz inflamada ou infeccionada. Nesses casos, os dentistas removem a polpa dental – onde estão nervos e vasos sanguíneos, fazem a desinfecção do local para exterminar microorganismos potencialmente nocivos e fecham a abertura.
Considerando os avanços na Odontologia atual, é infundado indicar a extração de dentes quando há possibilidade de tratá-los e salvá-los na boca. A maior parte dos supostos especialistas entrevistados não tem nenhuma publicação científica na literatura e, inclusive, uma pessoa citada no documentário como uma das vozes centrais da Odontologia Holística é um dentista chamado Hal Huggins que teve sua licença cassada em 1996 por prática ilegal da profissão e indicação de tratamentos desnecessários. Neste caso, Huggins, além de arrancar os tratamentos de canal de dois idosos (um deles com cancer), indicou terapias não convencionais, como sauna e vitamina C, a um custo de R$21000,00.
A Associação Americana de Endodontistas considera que a informação apresentada pelo filme é prejudicial aos pacientes. O tratamento de canal é baseado em ciência, com múltiplos estudos e pesquisas revisadas nos últimos cem anos demonstrando sua segurança e eficácia. A grande preocupação é que um documentários desses seduza o público leigo em torno de um assunto que ele não pode ter conhecimento técnico para verificar a veracidade dos dados. É antiético! Você não pode conduzir o leigo a tomar decisões prejudiciais à sua saúde.
A Associação Brasileira de Odontologia diz que os profissionais entrevistados não tem relevância no universo acadêmico e que a Odontologia Holística não é reconhecida como uma área odontológica pelos órgãos competentes.
Fonte: Folha de São Paulo – 25/01/2018
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