27 de janeiro de 2021, 15:06.

ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO DE PACIENTES COM TEA

O Transtorno do Espectro do Autismo, de acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), compreende um conjunto de transtornos que interferem no desenvolvimento infantil, com causas genéticas, hereditárias e biológicas e com características prevalentes em dois domínios:
1- dificuldade na comunicação e interação social, marcada por déficits na reciprocidade social, emocional e dificuldade de iniciar e manter relacionamentos, dificuldades no uso da comunicação;
2- comportamentos esteriotipados e repetitivos, com interesses restritos.

Os símbolos do TEA são:

Cor azul: representa a maior prevalência do TEA em indivíduos do sexo masculino, que chega a uma proporção de 4 meninos para cada menina. Além disso, o azul é uma cor que representa calma e espiritualidade, pois um dos sintomas sentidos por boa parte dos autistas é o incômodo ao barulho e a agitação.

Fita de conscientização: trás o quebra-cabeça em cores diferentes, que representa a diversidade de pessoas e famílias que convivem com o TEA, e a diversidade de tratamentos. As diversas cores representam as diferentes famílias e pessoas que são afetadas com o TEA e que precisam conviver com ele diariamente. E por último, o brilho que a fita carrega simboliza a esperança de que se aumente a conscientização sobre o transtorno, os apoios e acessos a serviços necessários para que os indivíduos sejam inseridos e aceitos na sociedade com as suas diferenças.

Antigamente, o autismo era considerado uma condição rara. Nos dias atuais, sabe-se que 1% da população tem TEA, sendo que essa incidência aumenta quando há parentesco. Pais que têm um filho com TEA têm de 10-20% de chance de ter um segundo filho autista, gêmeos idênticos de 70-90% de chance de ambos apresentarem essa condição e gêmeos não-idênticos de 10-20%.

O TEA não tem preferência por grupos socioeconômicos, étnicos ou raciais. Sua distribuição mundial é bem semelhante afetando de países pobres aos mais desenvolvidos. Não se conhece ainda exatamente as causas do autismo, entretanto podem ser destacados vários fatores de risco, genéticos e ambientais, que têm demonstrado favorecer o desenvolvimento dessas alterações de comportamento.

Não existe um marcador biológico para o TEA, dessa forma, não existem exames laboratoriais ou de imagem que ajudem a identificar o autismo. O diagnóstico é clínico e pode ser realizado por um médico, que pode ser um pediatra, neuropediatra, neurologista ou psiquiatra infantil. Mas mais importante do que a especialidade médica é o conhecimento que o profissional tem sobre as características do TEA. Em geral, o médico considera o histórico do paciente, a observação de seu comportamento em diferentes ambientes e os relatos dos pais, professores, cuidadores e outros profissionais que o assistem. A partir daí, ele costuma seguir critérios estabelecidos pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ou pela Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde, para fechar o diagnóstico. Quanto mais cedo é feito este diagnóstico, melhor, pois se sabe que de 0 a 3 anos o Sistema Nervoso Central (SNC) está em desenvolvimento e apresenta grande plasticidade neuronal, apresentando “janelas de oportunidades” para se conseguir grandes avanços frente às intervenções comportamentais. No entanto, para que a intervenção inicie cedo, antes do SNC completar sua maturação aos 3 anos, é necessário que seja feito o diagnóstico precoce do TEA.

Atualmente, o tratamento com evidências científicas com melhores resultados para os indivíduos com TEA é a intervenção comportamental que permite que o indivíduo desenvolva suas habilidades. O tratamento medicamentoso é apenas um suporte para alívio de sintomas e controle das comorbidades. Como a causa do TEA ainda é desconhecida, não se tem uma cura para o mesmo, dessa forma, todo tratamento que promete essa cura é digno de suspeita.

A saúde bucal é fator determinante para a qualidade de vida das pessoas com TEA. Uma dor de dente é perturbadora para qualquer pessoa. Imaginem para alguém que pode ter dificuldades na comunicação. A realização da higiene bucal pode ser prejudicada em pacientes com TEA porque eles não costumam colaborar com a escovação dentária em casa, e este fato muitas vezes pode estar associado a uma alimentação restritiva e com alta frequência de açúcar que também é característica de pacientes autistas. O tratamento odontógico de paciente com TEA pode ser realizado em ambiente ambulatorial de consultório odontológico ou em hospital.

A modalidade de atendimento odontológico irá depender do grau de colaboração do paciente. Para realizar um atendimento em ambiente de consultório, podemos lançar mão de técnicas de manejo comportamentais para que o paciente se familiarize mais com o ambiente e os profissionais, como mostrar os procedimentos que serão realizados em bonecos e deixar com que o paciente manuseie os materiais odontológicos que serão utilizados na sua consulta e assim não se intimide quando o profissional for utilizá-lo.

Além disto, também podemos utilizar técnicas de sedação para atendimento de alguns pacientes com TEA em ambiente de consultório. Aqui na Lourenço Odontologia realizamos a sedação com óxido nitroso, que é um gás que o paciente inala durante todo o procedimento e tem a função de tranquilizar o paciente conscientemente. Ou seja, o paciente fica com uma sensação de conforto mas responde aos estímulos verbais e táteis. A sedação com este gás pode ser associada a um medicamento pré-sedativo que colaborará para que o pacinte respire melhor pela máscara de sedação e assim a técnica tenha mais sucesso.

No entanto, esses pacientes costumam ter padrões de resposta atípicos e algumas vezes a sedação consciente pode ser ineficaz. Se o paciente não responde a sedação oral e/ou inalatória e apresenta necessidades odontológicas acumuladas o mais indicado é o atendimento hospitalar sob anestesia geral. Neste caso, nós temos uma equipe que se descocará ao hospital de prefrerência da família, ou algum hospital que o plano de saúde der cobertura, e assim sera feito todo o tratamento em um dia só com o paciente profundamente sedado. O atendimento odontológico hospitalar em alguns casos é a única forma possível para que se possibilite o atendimento de pacientes com TEA que apresentam forte reações adversas ao tratamento odontológico.

Independentemente da forma escolhida para atendimento odontológico, preconizamos as orientações em higiene bucal com todos os pacientes, mas principalmente com os autistas. Como sabemos que o atendimento odontológico para os pacientes com TEA é mais complicado, nada melhor que prevenir a ocorrência de doenças bucais em casa. Ações de educação em saúde devem ser recomendadas aos responsáveis ou cuidadores desde o nascimento da criança, para que esta se torne um adulto com a melhor condição de saúde bucal possível e elas podem ser executadas por meio de metodologias adequadas a cada deficiência, situação e faixa etária.

Uma técnica de orientação em higiene bucal que usamos com frequência são as sequencias de imagens que podem ser entregues ao paciente de forma impressa ou em slideshow. Como o paciente com TEA costuma ser muito visual, costumamos ordenar a sequência de todos os passos para realizar a higiene bucal e informações sobre hábitos de alimentação saudável para que os pais façam o treinamento com as crianças em casa até que eles crime autonomia para realizar sozinhos.

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