IMPORTÂNCIA DO DENTISTA NO HOSPITAL
1) Na prevenção da PAVM
- A Pneumonia associada à Ventilação Mecânica ( PAVM ), é a segunda infecção nosocomial mais comum e a primeira infecção mais adquirida na UTI.
- É adquirida pelos pacientes ventilados mecanicamente por 48 horas ou mais, após a intubação endotraqueal, desde o início da ventilação ou até uma semana após a ventilação.
- É uma complicação comum de intubação, assim causando o prolongamento do paciente no hospital, o aumento do uso de recursos de saúde e o aumento no número de mortalidade, que variam de 13 a 55%.
- A implementação dos cuidados direcionados ao aparelho de ventilação mecânica, a aspiração subglótica e o protocolo de cuidados bucais reduzem significativamente as taxas de PAVM em 12 meses.
- Fatores de risco relacionados à boca: formações de colônias bacterianas na boca, acúmulo de bactérias patogênicas na superfície dos dentes, desenvolvimento de placa, e aspiração de secreções da cavidade oral.
- A presença do cirurgião-dentista na UTI é de extrema importância para dar as orientações ao corpo de enfermagem para a realização da higiene bucal, fazer o controle da placa bacteriana com a remoção mecânica e fazer uso de enxaguatórios bucais, sendo a base de Clorexidina 0,12% em pacientes entubados sob ventilação mecânica, principalmente em relação à técnica a ser utilizada, os cuidados, e os materiais a serem instituídos, assim como a realização de procedimentos odontológicos visando à remoção de focos infecciosos bucais e possíveis agravos ao paciente.
( David, 1998; Ahamed et al, 2001; Rello et al, 2002; Schleder, 2003; American Thoracic Society e Infectious Diseases Society of America, 2005)
2) Na prevenção e tratamento da mucosite oral (MO)
- A MO é um efeito colateral muito comum da quimioterapia (QT), radioterapia (RT) de cabeça e pescoço, e QT mieloablasiva de alta dose usada em transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH).
- Segundo Kuhn et al. (2009), MOs ocorrem em aproximadamente 52 a 80% das crianças recebendo tratamento para câncer. Higiene oral pobre, danos pré-existentes na cavidade bucal, imunossupressão, e alto nível de citocinas pró-inflamatórias predispõe os pacientes à severa mucosite.
- Dores na boca e dificuldades para deglutir, comer e beber, bem como para falar, são os sintomas mais prevalentes e costumam afetar muitos pacientes no curso da MO, e pode causar profunda angústia e prejuízos psicológicos na qualidade de vida e estado funcional destes pacientes.
- Crianças e adolescentes representam um grupo único de pacientes no campo de câncer e apresentam um risco elevado para MOs. (Cheng et al., 2011).
- Eduardo et al. avaliaram 51 pacientes pediátricos no de TCTH do HIAE. Os resultados mostraram que todos os pacientes apresentaram MO com severidade média (grau I e II), enquanto estudos anteriores mostraram freqüência de mucosite também de grau III e IV (severidade grande), assim concluindo que o protocolo de higiene oral associado a LBI foram efetivos na diminuição da severidade da mucosite associada a QT em crianças que passam por TCTH.
- O uso da crioterapia para administração de alguns quimioterápicos, como o melfalano, resultou em menores escores de mucosites, menor uso de narcóticos e menores indices de dores associadas à mucosite oral. A crioterapia causa vasoconstrição, assim diminuindo a distribuição do medicamento citotóxico na mucosa oral. (Sung et al., 2015)
- Na avaliação inicial, Hogan (2009) sugere que o objetivo deve ser a remoção de qualquer potencial foco de infecção em boca, assegurar que a cavidade bucal é livre de irritações, e educar o paciente e família sobre a necessidade de higiene oral antes, durante e após a terapia oncológica. Os tratamentos dentais devem ser completados até 1 mês antes da terapia para o câncer ser iniciada, quando isto não é possível devem ser colocadas restaurações provisórias que podem ser trocadas apos a estabilização do quadro hemato-oncológico do paciente. Os pacientes devem ser instruídos a manter uma dieta não cariogênica e novos exames dentais ser realizados periodicamente no curso de seu tratamento. Aparelhos ortodônticos devem ser removidos, e o tratamento ortodôntico pode ser continuado após o paciente estar 2 anos livre da doença. Deve ser implementado um protocolo de higiene oral com os enfermeiros do hospital, e um odontopediatra deve fazer parte de uma equipe multidisciplinar para ajudar na fiscalização e educação dos enfermeiros. Por fim, é importante que o hospital avalie as mudanças ocorridas após a implementação do protocolo de higiene bucal para que esta prática fique cada vez mais solidificada.
3) Atuação do cirurgião-dentista na UTI
- Estado debilitado do paciente leva ao desenvolvimento de doenças da cavidade oral, como doença periodontal e candidíases.
- Essa deterioração significativa da saúde oral pela má higiene, além de interferir nas condições sistêmicas dos pacientes e afetar sua qualidade de vida, também contribui para o aumento do tempo e custo do tratamento hospitalar.
- Composição da flora destes pacientes passa por uma mudança, favorecendo a instalação de microorganismos patógenos.
- A saliva também é um elemento crucial em cavidade bucal e tem uma série de funções importantes, como remineralizar o esmalte dentário, fornecer substâncias imunológicas e lavar os resíduos de alimentos. A hipossalivação que ocorre durante o uso de vários medicamentos favorece o crescimento microbiano local. Na ausência de saliva, as salivas artificiais e lubrificantes orais podem melhorar os sitomas da xerostomia. Estes produtos tendem a diminuir a sensação de secura bucal e melhorar a fisiologia oral.
- O exame clínico e a higienização oral em pacientes da UTI são procedimentos básicos e essenciais, necessários para prevenir infecções, manter a umidade das mucosas e promover conforto ao paciente, com o objetivo principal de manter a saúde dos tecidos orais. O investimento em implementação de protocolos de cuidados com a saúde bucal para prevenir riscos de doenças sistêmicas infecciosas é uma medida de grande valia para a saúde pública e privada.
- Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) evidenciam uma alta taxa de mortalidade por endocardite, sendo que 20% dos pacientes acometidos não sobrevivem à doença. A endocardite bacteriana causada por infecções relacionadas com as arcadas dentárias é responsável por cerca de 10% dos casos de morte, de vítimas de doenças no coração, em todo o mundo. Entre as doenças cardíacas, a endocardite ganha destaque porque está relacionada a diversos fatores, entre eles as bacteremias decorrentes de procedimentos odontológicos em pacientes com condições cardíacas diversas. Levando-se em conta a elevada quantidade de microorganismos presentes na cavidade oral, quando a ocorrência de sangramentos, pode ocorrer bacteremia transitória, sendo esse evento de extrema importância em pacientes considerados de risco elevado.
4) Atuação do cirurgião-dentista nas alas de internação
- O cirurgião-dentista deve avaliar o paciente enquanto o estadiamento e a realização de exames complementares estão acontecendo, para que se possa realizar o atendimento odontológico com o objetivo de eliminar fontes de traumas, tais como aparelhos ortodônticos, dentes e/ou restaurações fraturadas e dentes decíduos em fase de esfoliação, evitando-se, assim, infecções de origem endodôntica e da mucosa bucal.
- As drogas quimioterápicas atuam de forma mais intensa em células que apresentam alto índice mitótico, como as células das mucosa oral e do tubo digestivo, por isso a ocorrência de efeitos na cavidade oral.
- É de extrema importância ressaltar que a criação de um protocolo de atendimento odonto-onco-hematológico, tanto na fase de diagnóstico, quanto durante o tratamento antineoplásico, podem reduzir os efetos colaterais dessa terapia, prevenir possíveis complicações e reduzir o tempo de internação trazendo um aumento da qualidade de vida, prevenção de doenças sistêmicas advindas da cavidade bucal, durante o tratamento com quimioterapia, radioterapia e transplante de medulla óssea.
- Complicações bucais: xerostomia, disgeusia, candidíase, mucosite, osteorradionecrose e cáries de irradiação.
Fonte: Livro “Saúde tem Risco?” – Hospital Vera Cruz.
Dra. Bárbara Galletti Lourenço Marques
CRO-SP: 105037
Especialista em Odontologia Hospitalar pelo Hospital Israelita Albert Einstein
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