8 de maio de 2019, 17:13

BRUXISMO INFANTIL

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O bruxismo é definido por um consenso internacional como uma atividade repetitiva da musculatura mastigatória, caracterizada por apertamento e ranger de dentes e/ou segurar ou empurrar a mandíbula. Apesar de ser muitas vezes agrupado e designado genericamente como “bruxismo”, o bruxismo tem duas manifestações distintas, podendo ocorrer durante o sono ou a vigília. O bruxismo do sono é caracterizado tanto por uma atividade de apertamento como de ranger dos dentes, enquanto o bruxismo da vigília se caracteriza principalmente, por uma atividade de apertamento em pacientes normorreativos

O bruxismo do sono e da vigília aparentam ter diferentes etiologias e fisiopatologias. Os pesquisadores estimam que o bruxismo do sono e da vigília estejam presentes concomitantemente em um a cada cinco indivíduos na população geral. Até agora, a maioria das evidências sobre a etiologia do bruxismo provém de estudos que se concentram no bruxismo do sono. Esses estudos indicam que alterações neuroquímicas, como distúrbios no sistema dopaminérgico central e excitações relacionadas ao sono desempenham um papel na presença do bruxismo do sono. Além disso, fatores demográficos como gênero, idade e nível de educação foram descritos como associados ao bruxismo do sono. Fatores psicológicos como a depressão e o estresse são frequentemente associados ao bruxismo do sono e da vigília. O bruximo também pode estar associados a problemas na mordida da criança, e pode ter características genéticas, apesar de não haver um único gene associado a este hábito. Os autores Lavigne et. al também sugerem que as crianças tendem a imitar os comportamentos de seus pais, uma criança pode aprender a apertar e ranger os dentes observando os pais reagirem ao estresse, raiva ou frustração, desta forma.

Pesquisadores encontraram que as crianças que apresentavam bruxismo do sono eram mais propensas a terem doenças médicas crônicas, rinite alérgica, asma e infecções do trato respiratório superior. Também encontraram que o bruxismo do sono está associado a outras doenças do sono, particularmente ao falar dormindo. Alguns autores sugerem que o bruxismo do sono está associado à redução da via aérea ou ao aumento da resistência da passagem do ar, bem como apnéia obstrutiva do sono.

Várias abordagens podem ser usadas para diagnosticar o bruxismo do sono e da vigília, todos com suas vantagens e desvantagens. O diagnóstico do bruxismo pode ser designado como possível por meio do auto-relato ou provável por meio do auto-relado associado a sinais e sintomas (desgastes dentários excessivos, dor ou fadiga nos músculos da mastigação, dor de cabeça na região do temporal ou travamento da mandíbula). Contudo, o bruxismo do sono só pode ser detectado definitivamente por meio da polissonagrafia com o paciente adormecido. Houve associação entre a presença de bruxismo do sono e o número de horas dormidas por noite, as crianças que dormiam por menos de 8 horas por noite eram mais propensas a apresentarem o bruxismo do sono e que estímulos sonoros e de luz nos quartos onde as crianças dormiam eram fatores ambientais associados ao bruxismo. Existe alguma evidêcia relacionando também o bruxismo do sono ao fumo passivo.

O bruxismo não pode ser considerado normal, mesmo durante as fases dos dentes de leite e da dentição mista. O bruxismo está associado a vários distúrbios, como problemas dentários, dor orofacial, doenças neurológicas e apneia obstrutiva do sono. Em crianças, os hábitos orais, como o bruxismo, a sucção não-nutritiva e roer as unhas, são considerados comuns, mas aqueles que persistem com a idade podem ter efeitos profundos nas estruturas orofaciais e podem desempenhar um papel na etiologia de disfunção temporomandibular. Um estudo encontrou que a maioria das crianças que praticavam algum tipo de esporte não sofria de bruxismo no sono. A sensação prazerosa oriunda dessas atividades pode ser um fator protetor para diminuir altos níveis de neuroticidade e de bruxismo do sono.

Existem várias formas de tratamento para o bruximo, como indicação de tratamento terapêutico, medicamentoso, e uso de aparelhos. Alguns autores relatam que não há provas suficientes para afirmar que a placa oclusal é efetiva no controle do bruxismo, entretanto seu uso é realizado no intuito de impedir o desgaste dentário. Outros autores afirmam que o ajuste oclusal e o uso de aparelhos interoclusais podem ser efetivos. Na dentadura decídua, a preocupação com o desgaste dentário é muito menor, já que é uma dentição temporária. Entretanto, a partir do momento em que este desgaste se torna muito severo ou os primeiros dentes permanentes (incisivos e primeiros molares) entram em oclusão, os dentes devem ser protegidos para que esse desgaste não possa evoluir.

A injeção de toxina botulínica, ou botox, pode ser efetiva na diminuição do ranger ou apertamento, porém possui efeito não duradouro e nenhuma evidência científica que garanta seus efeitos no longo prazo, principalmente em crianças normorreativas. Por outro lado, em crianças com alterações neuromotoras, como por exemplo a paralisia cerebral, o uso da toxina botulínica faz parte de um programa reabilitador interdisciplinar, por diminuir a espasticidade muscular apendicular.

A aplicação de laser de baixa intensidade é um tratamento não invasivo e de baixo custo. A irradiação de pontos desencadeantes constitui um tratamento eficaz para a dor orofacial, bem como a redução do inchaço e da hiperemia. A acupuntura também foi utilizada com sucesso para o tratamento do bruxismo, conseguindo uma redução na atividade do masseter e dos músculos temporais anteriores, bem como uma redução da ansiedade.

 

Fonte: Monografia de Especialização “Bruxismo na infância – uma revisão de literatura” apresentada à Fundecto (USP) pela autora Anna Luisa de Brito Pacheco Furlan.

 

 

 

 

 

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